O escritor moçambicano, 52 anos, Mia Couto, também licenciado em Medicina e Biologia, fez uma oração de sapiência, na abertura do ano lectivo do Instituto Superior de Ciências e Tecnologia de Moçambique.
Excertos desta oração foram publicados no Courrier Internacional, nº. 0, de 2 de Abril.
Destacamos: Os Sete Sapatos Sujos:
"Não podemos entrar na modernidade com o actual fardo de preconceitos. À porta da modernidade precisamos de nos descalçar.
Eu contei Sete Sapatos Sujos que necessitamos de deixar na soleira da porta dos tempos novos. Haverá muitos. Mas eu tinha que escolher e sete é um número mágico:
- Primeiro Sapato - A ideia de que os culpados são sempre os outros. - Segundo Sapato - A ideia de que o sucesso não nasce do trabalho. - Terceiro Sapato - O preconceito de que quem critica é um inimigo. - Quarto Sapato - A ideia de que mudar as palavras muda a realidade. - Quinto Sapato - A vergonha de ser pobre e o culto das aparências. - Sexto Sapato - A passividade perante a injustiça. - Sétimo Sapato - A ideia de que, para sermos modernos, temos de imitar os outros."
Mia Couto termina sua fala dizendo:"Teremos mais e mais orgulho em sermos quem somos: moçambicanos construtores de um tempo e de um lugar onde nascemos todos os dias. É por isso que vale a pena aceitarmos descalçar não só os setes mas todosos sapatos que atrasam a nossa marcha colectiva. Porque a verdade é uma: antes vale andar descalço do que tropeçar com os sapatos dos outros. "
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