sexta-feira, 19 de outubro de 2012

TEXTOS...PENSAMENTOS...POESIAS


Nov 2, '07 3:08 PM
for everyone



Sempre gostei de guardar textos, pensamentos e poesias que eu gosto.Tudo me faz refletir e pensar na vida, na morte, no amor, na amizade...
Vou deixá-los aqui para que, quem quiser possa desfrutar também da delícia das palavras escritas, inspiradas pela alma e pelo coração das pessoas...
Dos poetas e não poetas, daqueles que um dia resolveram colocar sua alma e seu coração no papel.

BEIJOS!

                                        Via Láctea 

ngc1672.jpg

"Ora (direis) ouvir estrelas! Certo
Perdeste o senso"! E eu vos direi, no entanto,
Que, para ouvi-las, muita vez desperto
E abro as janelas, pálido de espanto...

E conversamos toda a noite, enquanto
A via láctea, como um pálio aberto,
Cintila. E, ao vir do sol, saudoso e em pranto,
Inda as procuro pelo céu deserto.

Direis agora! "Tresloucado amigo!
Que conversas com elas? Que sentido
Tem o que dizem, quando estão contigo?"

E eu vos direi: "Amai para entendê-las:
Pois só quem ama pode ter ouvido
Capaz de ouvir e de entender estrelas".

Olavo Bilac

                   
Desejo....de Víctor Hugo

 
Desejo, primeiro, que você ame, 
e que amando, também, seja amado. 
E que se não for, seja breve em esquecer. 
E esquecendo não guarde mágoa. 
Desejo, pois, que não seja assim, 
mas se for, saiba ser sem se desesperar.
Desejo também que tenha amigos, 
que mesmo maus e inconseqüentes, 
sejam corajosos e fiéis. 
E que em pelo menos num deles 
você possa confiar sem duvidar.
E porque a vida é assim, 
desejo ainda que você tenha inimigos; 
nem muitos, nem poucos, 
mas na medida certa para que, algumas vezes, 
você se interpele a respeito de suas próprias certezas. 
E que entre eles, haja pelo menos um que seja justo, 
Para que você não se sinta demasiado seguro.
Desejo depois que você seja útil, 
mas não insubstituível. E que nos maus momentos, 
quando não restar mais nada 
essa utilidade seja suficiente para manter você de pé.
Desejo ainda que você seja tolerante; 
não com os que erram pouco, porque isto é fácil, 
mas com os que erram muito e irremediavelmente. 
E que fazendo bom uso dessa tolerância, 
você sirva de exemplo aos outros.
Desejo que você sendo jovem 
não amadureça depressa demais, 
e que sendo maduro, não insista em rejuvenescer. 
E que sendo velho não se dedique ao desespero. 
Porque cada idade tem o seu prazer e a sua dor e 
é preciso deixar que eles escorram por entre nós.
Desejo por sinal que você seja triste; 
não o ano todo, mas apenas um dia. 
Mas que nesse dia descubra que o riso diário é bom, 
o riso habitual é insosso e o riso constante é insano. 
Desejo que você descubra, com o máximo de urgência, 
acima e a despeito de tudo, que existem oprimidos, 
injustiçados e infelizes, e que estão à sua volta.
Desejo ainda que você afague um gato, 
alimente um cuco e ouça o João-de-Barro erguer 
triunfante o seu canto matinal. 
Porque assim, você se sentirá bem por nada.
Desejo também que você plante uma semente, 
por mais minúscula que seja, e acompanhe seu crescimento. 
Para que você saiba de quantas muitas vidas é feita uma árvore.
Desejo, outrossim, que você tenha dinheiro, 
porque é preciso ser prático. 
E que pelo menos uma vez por ano 
coloque um pouco dele na sua frente e diga "Isso é meu", 
só para que fique bem claro quem é o dono de quem.
Desejo também que nenhum dos seus afetos morra, 
por ele, e por você, mas que se morrer, você possa chorar 
sem se lamentar e sofrer sem se culpar.
Desejo, por fim, que você, sendo um homem 
tenha uma boa mulher. 
E que, sendo uma mulher, tenha um bom homem. 
E que se amem hoje, amanhã e no dia seguinte. 
E quando estiverem exaustos e sorridentes, 
ainda haja amor para recomeçar.
E se tudo isso acontecer 
não tenho nada mais a te desejar.
 Victor Hugo
                                   

Viver é...


Viver é sonhar a cada instante,
sentir a brisa no rosto,
soltar os braços e sentir-se livre,
voar em seus pensamentos,
ouvir o canto dos pássaros,
deixar o sol tocar teu corpo,
a chuva selar teu beijo,
mergulhar no oceano de amor,
ao fechar os olhos ...
sonhar com o amanhã,
e ao abri-los, recomeçar!
                 

Aprendi com o tempo que...



Aprendi com o tempo que...
"Às vezes, é preciso esquecer um pouco a pressa
e prestar mais atenção
em todas as direções
ao longo do caminho...
A pressa cega os olhos.
E deixamos de observar
tantas coisas boas e belas
que acontecem ao nosso redor.
Às vezes, o que precisamos está tão próximo...
Passamos, olhamos, mas não enxergamos !
Não basta apenas olhar .
É preciso saber olhar com os olhos,
enxergar com a alma e
apreciar com o coração..."
 

 

Tenhamos paciência...


                           

                                        Tenhamos paciência... Tenhamos paciência para as dificuldades.
Tolerância para as diferenças.
Benevolência para os equívocos.
 
Misericórdias para os erros.
Perdão para as ofensas.
 
Equilíbrios para os desejos.
Sensatez para as escolhas.
Delicadezas para as palavras.
Coragem para as provas.
 
Fé para as conquistas e amor para todas as ocasiões...
Benevolência para os equívocos.
Misericórdias para os erros.
Perdão para as ofensas.
 
Equilíbrios para os desejos.
Sensatez para as escolhas.
Delicadezas para as palavras.
Coragem para as provas.
 
Fé para as conquistas e amor para todas as ocasiões...
             
FAXINA NA ALMA


Não importa onde você parou...
 em que momento da vida você cansou...
 Recomeçar é dar uma nova chance a si mesmo...
 é renovar as esperanças na vida e, o mais importante...
 acreditar em você de novo.

· Sofreu muito nesse período? Foi aprendizado...
· Chorou muito?
 Foi limpeza da alma...
· Ficou com raiva das pessoas? Foi para perdoá-las um dia...
· Sentiu-se só por diversas vezes? É porque fechaste a porta até para os anjos.
· Acreditou que tudo estava perdido? Era o início da tua melhora...

Pois é... agora é hora de reiniciar, de pensar na luz... de encontrar prazer nas coisas simples de novo.

Um corte de cabelo arrojado diferente...
 um novo curso, ou aquele velho desejo de aprender a pintar... desenhar... dominar o computador... ou qualquer outra coisa.

Olha quanto desafio, quanta coisa nova nesse mundão de meu Deus teesperando...

Tá se sentindo sozinho? Besteira tem tanta gente que você afastou com o seu "período de isolamento".
Tem tanta gente esperando apenas um sorriso teu para "chegar" perto de você.

Quando nos trancamos na tristeza, nem nós mesmos nos suportamos, ficamoshorríveis.
 O mau humor vai comendo nosso fígado, até a boca fica amarga.

Recomeçar... Hoje é um bom dia para começar novos desafios.
Onde você quer chegar?
Alto? Sonhe alto!
Queira o melhor do melhor. Queira coisas boas para a vida.
 Pensando assim, trazemos prá nós aquilo que desejamos.
Se pensamos pequeno, coisas pequenas teremos. Já se desejarmos fortemente o melhor e, principalmente lutarmos pelo melhor, o melhor vai se instalar na nossa vida.

E é hoje o dia da faxina mental.
Jogue fora tudo que te prende ao passado, ao mundinho de coisas tristes. Fotos, peças de roupa, papel de bala, ingressos de cinema, bilhetes de viagens e toda aquela tranqueira que guardamos quando nos julgamos apaixonados.
Jogue tudo fora, mas principalmente esvazie seu coração.
Fique pronto para a vida, para um novo amor.
Lembre-se, somos apaixonáveis, somos sempre capazes de amar muitas e muitas vezes, afinal de contas...
 nós somos o "Amor".

"Porque sou do tamanho daquilo que vejo, e não do tamanho da minha altura".
Carlos Drummond de Andrade


 UMA PAIXÃO PRA SANTINHA - Jessier Quirino -                 
 

Uma Paixão Pra Santinha 
Jessier Quirino (in Prosa Morena)

Xanduca de Mané Gago
 
Tinha querença mais eu
Me vestia de abraço
Bucanhava os beiço meu
Era aquele tirinete
Parecia dois colchete
Eu in nela e ela in nêu.

No apolegar das tetas 
Nos chamego penerado
Na misturação das perna 
Nos cafuné do molengado
Nos beijo mastigadinho 
Nos açoite de carinho
Nós era bem escolado. 

Era aquele tudo um pouco
Era aquela amoridade
Mas faltava na verdade
Sensação de friviôco
Um querer, uma pujança
Daquela que dá sustança
Na homencia do cabôco.

No dia qu'eu vi Santinha
Sobrinha do sacristão
O bangalô do meu peito
Se enfeitou feito um pavão
Foi quando esqueci Xanduca
Sem mágoa sem discussão
Pois vimo que nós só tinha
Uma paixãozinha mixa
Uma jogada de ficha
Uma piola de paixão.

Santinha é a indivídua
Que misturou meu pensar
Que me deixou friviando
Sem nem sequer me olhar

Matutinha aprincesada
Mulher de voz aflautada
Olhosa de se olhar
Fulô de beleza fina
É a tipa da menina
Que se deseja encontrar.

Mas Santinha é quase santa
Nem percebe o meu amor
Não tem na boca um pecado
Tem os beicinho encarnado
Pintado a lápis de cor
Só tem olhos pra bondade
Mas não faz a caridade
De enxergar um pecador.

Ah! se eu fosse um monsenhor
Um padre, um frei, um vigário
Eu achucalhava os sino
De cima do campanário
Eu abria o novenário
Eu enfeitava um andor
Botava ela impezinha
Feito uma santa rainha
Padroeira dos amor.

Arranjava um pedestal
Um altar um relicário
Chamava todas carola
Chamava todo o igrejário
E dizia em toda altura
Com voz de missionário:

Oh! minha santa Santinha!
Tire este manto celeste 
Saia deste relicário
Olhe pra mim e garanta 
Que vai deixar de ser santa
Qu'eu deixo de ser vigário!
                              
FUNERAL BLUES


 
Vou colocar aqui as várias versões em inglês e em português do poema recitadono filme "4 CASAMENTOS E UM FUNERAL". Poema esse que eu acho lindíssimo!

 

Stop all the clocks, cut off the telephone


W. H. AudenNua noite.jpg


Stop all the clocks, cut off the telephone,
Prevent the dog from barking with a juicy bone,
Silence the pianos and with muffled drum
Bring out the coffin, let the mourners come.

Let aeroplanes circle moaning overhead
Scribbling on the sky the message He Is Dead,
Put crepe bows round the white necks of the public doves,
Let the traffic policemen wear black cotton gloves.

He was my North, my South, my East and West,
My working week and my Sunday rest,
My noon, my midnight, my talk, my song;
I thought that love would last for ever: I was wrong.

The stars are not wanted now: put out every one;
Pack up the moon and dismantle the sun;
Pour away the ocean and sweep up the wood.
For nothing now can ever come to any good.

Parar todos os pulsos de disparo, eliminar o telefone


W.H. Audennoite[1].jpg


Pare todos os relógios, desligue o telefone,
Impeça o cão de latir com um osso suculento,
Silencie os pianos e com tambores lentos
Tragam para fora o caixão, deixe o cortejo vir.

Deixe os aviões circundarem alto
escrevendo  no céu a mensagem ELE MORREU,
Coloquem laços pretos em volta do pescoço branco das pombas públicas.
Deixe os polícias de tráfego usarem luvas pretas de algodão.

Ele era meu norte, meu sul, meu leste e oeste,
Minha semana de trabalho e meu descanso de domingo,
Meu meio-dia, minha meia-noite, minha conversa, minha canção;
Eu pensei de que o amor duraria para sempre: Eu estava errado.

As estrelas não são queridas agora: apague-as, cada uma;
Guarde a lua e desmonte o sol;
Derrame longe o oceano e jogue fora as florestas.
Pois de nada agora pode sempre vir o bom.
 
Blues Fúnebres
W. H. Auden
Noite.jpgQue parem os relógios, cale o telefone,
jogue-se ao cão um osso e que não ladre mais,
que emudeça o piano e que o tambor sancione
a vinda do caixão com seu cortejo atrás.

Que os aviões, gemendo acima em alvoroço,
escrevam contra o céu o anúncio: ele morreu.
Que as pombas guardem luto — um laço no pescoço —
e os guardas usem finas luvas cor-de-breu.

Ele era meu norte, sul, meu leste, oeste, enquanto
viveu, meus dias úteis, meu fim-de-semana,
meu meio-dia, meia-noite, fala e canto;
quem julgue o amor eterno, como eu fiz, se engana.

É hora de apagar as estrelas — são molestas —
guardar a lua, desmontar o sol brilhante,
de despejar o mar, varram as florestas,
pois nada mais há de dar certo doravante.

Funeral Blues


Pare os relógios, cale o telefone
Evite o latido do cão com um osso
Emudeça o piano e que o tambor surdo anuncie
a vinda do caixão, seguido pelo cortejo.
Que os aviões voem em círculos, gemendo
e que escrevam no céu o anúncio: ele morreu.
Ponham laços pretos nos pescoços brancos das pombas de rua
e que guardas de trânsito usem finas luvas de breu.
Ele era meu Norte, meu Sul, meu Leste e Oeste
Meus dias úteis, meus finais-de-semana,
meu meio-dia, meia-noite, minha fala e meu canto.
Eu pensava que o amor era eterno; estava errado
As estrelas não são mais necessárias; apague-as uma por uma
Guarde a lua, desmonte o sol
Despeje o mar e livre-se da floresta
pois nada mais poderá ser bom como antes era. 

Funeral BluesWH AudenParem os relógios
Cortem o telefone
Impeçam o cão de latir
Silenciem os pianos e com um toque de tambor tragam o caixão
Venham os pranteadores
Voem em círculos os aviões escrevendo no céu a mensagem: "Ele está morto"

Ponham laços nos pescoços brancos das pombas
Usem os policiais luvas pretas de algodão.

Ele era meu norte, meu sul, meu leste e oeste.
Minha semana de trabalho e meu domingo
Meu meio-dia, minha meia-noite.
Minha conversa, minha canção.

Pensei que o amor fosse eterno, enganei-me.
As estrelas são indesejadas agora, dispensem todas.

Embrulhem a lua e desmantelem o sol
Despejem o oceano e varram o bosque
Pois nada mais agora pode servir.

                    

Este  poema que se segue, é de uma amiga virtual de muitos anos.
"Iolanda"
Conhecemos-nos num bate-papo no IG, em 2002. Eu recém tinha adquirido meu computador e havia entrado o bate-papo para ver como funcionava a coisa.
Faz um tempão mesmo! Nossa amizade virtual é excepcional! Ela é minha professora que pacientemente me ensinou e me ensina ainda a lidar com o computador. E bota paciência nisso! 
Eu adoro os poemas dela. Sempre lhe digo que os acho tristes...
Colocarei outros mais que ela me enviou e eu os guardei. Tenho certeza que todos irão apreciá-los!
Luz
Luz
Iolanda 
Ea tanta luz que dela emanava...a tomava...envolvia...purificava.
E era tão forte a luz que nela se avistava, que perdeu sua força, luz que abraçava...
Luz, que era luz e mais nada. Era luz que nada iluminava, luz que seu amor próprio recriava. Era tanta luz que não se via mais nada e na sombra renascida, nessa luz esperava.
Luz que a si mesma confiava...
Ah...que tanta luz emanava se não fosse em sombras tão sonhada, pudera ao menos uma vez ser anunciada pelos destroços do espírito que ainda buscava.
Luz de força infinita.
Forte luz que tentava todos os dias, pois existia em si e alimentava sombras tardias...
e na cruel incerteza emanava brilho sem magia, buscando amparo nas sombras de uma noite fria.
Luz que não acreditava.
Era tanta luz que de sí fluía. Luz que ensaiava a vida que vivia.
E tamanha era a alegria no pranto que partia...
que o velho abraçou o novo na nova luz que refletia.
Luz sem vida que a própria vida encontrava...
 
Carta do Índio Chefe Noa Seattle, ao Presidente Norte Americano- "Manifesto da Terra-Mãe"
 
                                                                Bruegel (pormenor d`O Triunfo da Morte)
A Carta do Índio Chefe Seattle, "Manifesto da Terra-Mãe"
Já passaram muitos anos desde que foi escrita, apesar disso, a carta que se segue, não só continua actual como consubstancia uma crescente preocupação do homem de hoje.
Foi em 1854 que o chefe Seattle, da tribo Suquamish, do Estado de Washington, depois de o Governo norte americano ter proposto a compra do território ocupado por aqueles índios, respondeu ao presidente dos Estados Unidos endereçando-lhe a missiva que se anexa.
A mesma foi divulgada pela UNESCO em 1976, quando das comemorações do Dia Mundial do Ambiente.
Não está desfasada das nossas preocupações estéticas e culturais a questão ambiental ainda que esta temática tenha campo próprio, assim nesse contexto e ainda pela beleza do texto aqui lhe disponibilizamos a carta.
Quinhentos anos depois da chegada de Pedro Alvares Cabral a Porto Seguro no Brasil, a preocupação do chefe Seattle natural que era daquele continente, e sem pretender alimentar polémicas de qualquer espécie, revelou então uma preocupação à qual felizmente cada vez mais homens e mulheres de hoje, independentemente do credo filosófico ou religioso com que se identificam, da raça ou do continente
em que se inseram, dão maior importância. 
E a causa ecológica passou a ser causa dos povos, e não só do chefe índio.
Ao Chefe Seattle coube a gloria de com o seu perspicaz olhar de homem selvagem, como ele próprio se intitula , habituado que estava a visualizar o horizonte em busca de bisontes, que alimentassem a sua tribo, ter vislumbrado antes de todos a importância da terra mãe para o homem. E viu com o seu arguto olhar que a terra é nossa mãe e o sol nosso pai, e que podem um dia zangar-se!

Eis o texto da carta:


Quem é o Dono do Céu e do Brilho das Águas?
 
Carta escrita pelo Cacique índio Seattle, da tribo Duwamish, do Estado de Washington, dirigida ao Presidente dos Estados Unidos da América, Franklin Pierce, em 1855, na qual respondia à proposta do Governo de comprar a terra dos índios, pertencente à sua tribo.
                                 
O Grande Chefe mandou dizer que deseja comprar a nossa terra. O Grande Chefe assegurou-nos também de sua amizade e benevolência. Isto é gentil de sua parte, pois sabemos que ele não precisa de nossa amizade.
 
Vamos, porém, pensar em sua oferta, pois sabemos que, se não o fizermos, o homem branco virá com armas e tomará nossa terra. O Grande Chefe de Washington pode confiar no que o Chefe Seattle diz, com a mesma certeza com que nossos irmãos brancos podem confiar na alteração das estações do ano. Minha palavra é como as estrelas - elas não empalidecem.
 
Como pode querer comprar ou vender o céu, o calor da terra? Tal idéia nos é estranha. Se não somos donos da pureza do ar ou do esplendor da água, como então pode comprá-los?
 
Cada torrão desta terra é sagrado para meu povo. Cada folha reluzente do pinheiro, cada praia arenosa, cada véu de neblina na floresta escura, cada clareira e inseto a zumbir são sagrados nas tradições e na consciência do meu povo. A seiva que circula nas árvores carrega consigo as recordações do homem vermelho.
 
O homem branco esquece a sua terra natal, quando - depois de morto - vai vagar por entre as estrelas. Os nossos mortos nunca esquecem esta formosa terra, pois ela é a mãe do homem vermelho. Somos parte da terra e ela é parte de nós. As flores perfumadas são nossas irmãs: o cervo, o cavalo, a grande águia - são nossos irmãos. As montanhas rochosas, as fragrâncias dos bosques, o calor que emana do corpo de um potro e o homem - todos pertencem à mesma família.
 
Portanto, quando o Grande Chefe de Washington manda dizer que deseja comprar nossa terra, ele exige muito de nós. O Grande Chefe manda dizer que irá reservar para nós um lugar onde possamos viver confortavelmente. Ele será nosso pai e nós seremos seus filhos. Portanto vamos considerar a sua oferta de comprar a nossa terra. Mas não vai ser fácil, não. Porque esta terra é, para nós, sagrada.
 
Esta água brilhante que corre nos rios e regatos não é apenas água, mas sim o sangue de nossos ancestrais. Se lhe vendermos a terra, terá que se lembrar que ela é sagrada e terá de ensinar a seus filhos que é sagrada e que cada reflexo espectral na água límpida dos lagos conta os eventos e as recordações da vida de meu povo. O rumorejar da água é a voz do pai de meu pai.
 
Os rios são nossos irmãos, eles apagam nossa sede. Os rios transportam nossas canoas e alimentam nossos filhos. Se lhe vendermos nossa terra terá de se lembrar e ensinar a seus filhos que os rios são irmãos nossos e seus, e terá de dispensar aos rios a afabilidade que daria a um irmão.
 
Sabemos que o homem branco não compreende o nosso modo de viver. Para ele um lote de terra é igual a outro, porque ele é um forasteiro que chega na calada da noite e tira da terra tudo que necessita. A terra não é sua irmã, mas sim sua inimiga, e depois de a conquistar, ele vai embora. Deixa para trás os túmulos de seus antepassados, e nem se importa. Arrebata a terra das mãos de seus filhos e não se importa. Ficam esquecidas a sepultura de seu pai e o direito de seus filhos à herança. Ele trata sua mãe - a terra - e seu irmão - o céu - como coisas que podem ser compradas, saqueadas, vendidas como ovelhas ou miçangas cintilantes. Sua voracidade arruinará a terra, deixando para trás apenas um deserto.
                         
 
Não sei. Nossos modos diferem dos seus. A vista de suas cidades causa tormento aos olhos do homem vermelho. Mas talvez isto seja assim por ser o homem vermelho um selvagem que de nada entende.
 
Não há um lugar sequer calmo nas cidades do homem branco. Não há lugar onde se possa ouvir o desabrochar da folhagem na primavera ou o tinir das asas de um inseto. Mas talvez assim seja por ser eu um selvagem que nada compreende. O barulho parece apenas insultar os seus ouvidos. E que vida é aquela se um homem não pode ouvir a voz solitária do curiango ou, de noite, a conversa dos sapos em volta de um brejo? Sou um homem vermelho e nada compreendo. O índio prefere o suave sussurro do vento a sobrevoar a superfície de uma lagoa e o cheiro do próprio vento, purificado por uma chuva do meio-dia, ou rescendendo a pinheiro.
 
O ar é precioso para o homem vermelho, porque todas as criaturas respiram em comum - os animais, as aves, o homem. O homem branco parece não perceber o ar que respira. Como um moribundo em prolongada agonia, ele é insensível ao ar fétido. Mas se lhe vendermos nossa terra, terá de se lembrar que o ar é precioso para nós. Que o ar reparte seu espírito com toda a vida que ele sustenta. O vento que deu ao nosso bisavô o seu primeiro sopro de vida, também recebe seu último suspiro. E se lhe vendermos nossa terra, deverá mantê-la reservada, feito um santuário, como um lugar em que o próprio homem branco possa ir saborear o vento, adoçado com a fragrância das flores campestres.
 
Assim, pois, vamos considerar sua oferta para comprar nossa terra. Se decidirmos aceitar, farei uma condição: o homem branco deve tratar os animais desta terra como se fossem seus irmãos.
 

Sou um selvagem e desconheço que possa ser de outro jeito. Tenho visto milhares de bisões apodrecendo na pradaria, abandonados pelo homem branco que os abatia a tiros disparados do trem em movimento. Sou um selvagem e não compreendo como um fumegante cavalo de ferro possa ser mais importante do que o bisão que (nós - os índios) matamos apenas para o sustento de nossa vida.
 
O que é o homem sem os animais? Se todos os animais acabassem, o homem morreria de uma grande solidão de espírito. Porque tudo quanto acontece aos animais, logo acontece ao homem. Tudo está relacionado entre si.
 
O Grande Chefe deve ensinar a seus filhos que o chão debaixo de seus pés são as cinzas de nossos antepassados. Para que tenham respeito ao país, conte a seus filhos que a riqueza da terra são as vidas dos nossos parentes. Ensine a seus filhos o que temos ensinado aos nossos: que a terra é nossa mãe. Tudo quanto fere a terra, fere os filhos da terra. Se os homens cospem no chão, cospem sobre eles próprios.
 
De uma coisa sabemos: a terra não pertence ao homem: é o homem que pertence à terra. Disto temos certeza. Todas as coisas estão interligadas, como o sangue que une uma família. Tudo está relacionado entre si.
 
Tudo quanto agride à terra, agride os filhos da terra. Não foi o homem quem teceu a trama da vida; ele é meramente um fio da mesma. Tudo que ele fizer para a trama, à si próprio fará.
 
Os nossos filhos viram os seus pais humilhados na derrota. Os nossos guerreiros sucumbem sob o peso da vergonha. E depois da derrota passam o tempo em ócio, envenenando seu corpo com alimentos adocicados e bebidas ardentes. Não tem grande importância onde passaremos os nossos últimos dias - eles não são muitos. Mais algumas horas, mesmo alguns invernos, e nenhum dos filhos das grandes tribos que viveram nesta terra ou que tem andado em pequenos bandos pelos bosques, sobrará para chorar, sobre nossos túmulos, um povo que um dia foi tão poderoso e cheio de confiança como o nosso.
 
Nem o homem branco, cujo Deus com ele passeia e conversa de amigo para amigo, pode ser isento do destino comum. Poderíamos ser irmãos apesar de tudo. Vamos ver. De uma coisa sabemos que o homem branco venha talvez, um dia a descobrir: nosso Deus é o mesmo Deus. Talvez julgue, agora, que o pode possuir do mesmo jeito como deseja possuir a nossa terra; mas não pode. Ele é Deus da humanidade inteira e é igual sua piedade para com o homem vermelho e o homem branco.
 
Esta terra é querida por ele e causar dano à terra é cumular de desprezo o seu criador. Os brancos vão acabar; talvez mais cedo do que todas as outras raças. Continuem poluindo as suas camas e hão de morrer uma noite, sufocados em seus próprios dejetos!
 
Porém, ao perecerem, eles brilharão com fulgor, abrasados pela força de Deus, que os trouxe a este país e, por algum desígnio especial, lhes deu domínio sobre esta terra e sobre o homem vermelho. Esse destino é para nós um mistério, pois não podemos acreditar como será quando todos os bisões forem massacrados, os cavalos bravios domados, as brenhas das florestas carregadas de odor de muita gente e a vista das velhas colinas empanada por fios que falam. Onde ficará o emaranhado da mata? Terá acabado. Onde estará a águia? Irá acabar. Restará dar adeus à andorinha e à caça. O fim da vida é o começo da luta para sobreviver.
 
Compreenderíamos talvez, se conhecêssemos com o que sonha o homem branco, se soubéssemos quais as esperanças que transmite a seus filhos nas longas noites de inverno, quais as visões do futuro que oferece às suas mentes, para que possam formar desejos para o dia de amanhã. Somos, porém, selvagens. Os sonhos do homem branco são para nós ocultos. Por serem ocultos, temos que escolher nosso próprio caminho.
 
Se consentirmos em vender a nossa terra, será para garantir as reservas que nos prometeu. Lá talvez possamos viver nossos últimos dias, conforme desejamos. Depois que o último homem vermelho tiver partido e a sua lembrança não passar da sombra de uma nuvem a pairar acima das pradarias, a alma do meu povo continuará vivendo nesta floretas e praias, porque nós a amamos, como ama um recém-nascido o bater do coração de sua mãe.
 
Se lhe vendermos a nossa terra, ame-a como nós a amávamos. Proteja-a, como nós a protegíamos. Nunca esqueça de como era esta terra, quando dela tomou posse. E com toda a sua força, o seu poder e todo o seu coração: - conserve-a para seus filhos e ame-a como Deus nos ama a todos. De uma coisa sabemos: o nosso Deus é o mesmo Deus. Esta terra é por ele amada. Nem mesmo o homem branco pode evitar o nossos destino comum.
 


Noah Sealth  (1786-1866)
 

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